Autora de A Força do Querer, Gloria Perez estreou como titular do principal horário de novelas da Globo com De Corpo e Alma, lançada em 3 de agosto de 1992.
Com uma trama que falava de doação de órgãos, a obra tinha tudo para fazer sucesso, mas ficou marcada pelo assassinato de Daniella Perez, filha da novelista, que recebeu 18 tesouradas do ator Guilherme de Pádua, seu par romântico na trama. A mulher de Pádua, Paula Thomaz, então grávida de quatro meses, também participou do crime.
Na novela das oito, a atriz de 22 anos vivia a bailarina Yasmin e acabou se envolvendo com o motorista de ônibus Bira (Guilherme de Pádua), um rapaz bruto e machista, mas que ajudava a família da dançarina.
Com o desenrolar da trama, Yasmin e Bira terminaram o namorico para que ela tivesse caminho e se acertar com o seu antigo namorado. O estreante Pádua, preocupado com a redução de suas cenas, passou a pressionar Daniella para que Gloria desse mais importância ao seu personagem.
"Ela não aguentava mais ele ficar alugando o ouvido dela o tempo todo", disse a atriz Carla Daniel, que vivia a ex-namorada de Bira, em depoimento resgatado por Gloria.
Quando recebeu um bloco de seis capítulos no qual Bira não aparecia em dois, Guilherme se desesperou e aumentou a pressão sobre Daniella.
Em 28 de dezembro, Daniella e Guilherme saíram dos estúdios, onde a novela era gravada. Depois de abastecer seu carro em um posto de gasolina, Daniella teve seu veículo fechado pelo de Pádua. "Ela sai do carro cobrando explicações, ele a desacorda com um soco e a atira no interior do Santana, que sai dirigido por Paula Thomaz", escreveu Gloria Perez.
Minutos depois, moradores de um condomínio da Barra da Tijuca avisaram a polícia sobre a presença de dois carros suspeitos em um matagal sem iluminação. Um policial encontrou o carro usado por Daniella, que pertencia ao marido, o ator Raul Gazolla. O agente tropeçou no corpo de Daniella. "Foram 18 estocadas no coração e no pescoço. Um violento soco na face direita, de acordo com os laudos aplicado minutos antes da morte. Nenhuma lesão de defesa", contou Gloria.
"Naquela mesma noite, [Guilherme e Paula] foram à delegacia, no carro onde cometeram o crime, para abraçar nossa família e prestar condolências.".
Engajamento na Justiça Após o assassinato da filha, Gloria Perez se afastou temporariamente da novela e foi substituída por Gilberto Braga e Leonor Bassères (1926-2004), que assumiram os capítulos dos sete dias posteriores e se encarregaram de dar um desfecho para Yasmin: a personagem viajou para o exterior para fazer um curso de dança. Já Bira deixou de ser citado e simplesmente desapareceu da trama.
Depois de uma semana, Gloria retomou seus trabalhos e tocou a novela até o fim. Motivada pelo o que ocorreu com a filha, incluiu na trama dois temas novos: a morosidade da Justiça e a inadequação do Código Penal.
A autora também liderou uma campanha que coletou mais de 1,3 milhão de assinaturas para que fosse aprovado o projeto de lei 4.146/1993, que adicionou o homicídio qualificado ao rol de crimes hediondos.
Apesar da mudança na legislação, Pádua e Paula foram soltos em 1999, após cumprirem um terço de suas penas.
Encerrada em 5 de março de 1993, De Corpo e Alma nunca foi reprisada pela Globo em respeito à memória de Daniella Perez.
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