Nos últimos anos, o termo relacionamento abusivo ganhou grande visibilidade. Trata-se de condutas de dominação sobre o outro que podem causar danos, tanto psicológicos quanto físicos. Quem enfrenta a situação, normalmente tem dificuldade em notar os primeiros sinais de abusos porque muitos deles são considerados normais na sociedade.
Com o objetivo de orientar jovens a perceberem atitudes abusivas do companheiro, a promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo Valéria Scarance produziu a cartilha “Namoro Legal”, que contém dicas práticas de como perceber se uma relação está se tornando tóxica.
“Nós, que trabalhamos com a luta pela igualdade de gênero, percebemos a necessidade de conversar com as jovens de um jeito diferente. E a cartilha surgiu dessa forma”, explica Valéria à CLAUDIA.
Sem usar as palavras “violência”, “vítima” e “agressor”, a cartilha é didática e fornece sete dicas sobre namoro. A ideia é que meninas que estejam passando por relacionamentos abusivos, mas ainda não perceberam a situação, se interessem pelo assunto e passem a reconhecer condutas dominadoras do parceiro.
Casos de relacionamento abusivo são mais frequentes em jovens
Segundo a pesquisa ‘Visível e Invisível 2019’, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 42% das mulheres entre 16 e 24 anos sofreram violência em 2018 no Brasil. Na opinião da promotora, isso acontece devido à inexperiência dessas jovens mulheres.
“Se as mulheres já estão sujeitas ao controle e à dominação, o perigo é ainda maior para as jovens e adolescentes porque elas estão iniciando essa fase da vida e não sabem como identificar as condutas abusivas”, defende Valéria. “Elas cedem mais rapidamente a um relacionamento abusivo por conta da idade e inexperiência”, completa.
De acordo com a pesquisa “O Jovem Está Ligado”, do Instituto Avon, atitudes como não aprovar que a parceira saia sozinha ou beba em bares, forçar relação sexual sem preservativo e forçar o fornecimento da senha das redes sociais são sinais de alerta.
Prevenção
A cartilha “Namoro Legal” já está disponível no site no Ministério Público e pode ser acessada por qualquer pessoa. “A ideia é compartilhar essa cartilha em grupos, nas redes sociais, para que elas cheguem ao conhecimento das jovens e sirva como um instrumento de prevenção ao relacionamento abusivo”, explica a promotora.
Além do material, o projeto, que foi feito em parceira com a Microsoft, contará também com o lançamento da MAIA (Minha Amiga Inteligência Artificial). Trata-se de uma robô virtual que conversa com jovens e adolescentes, pelo Messenger, com base nas dicas da cartilha. Assim, ajuda as jovens a identificar comportamentos abusivos.
Ainda sem data para lançamento, ela deverá ficar hospedada no site do Ministério Público, da Plan International e da Capricho. “O objetivo é que seja um instrumento de fácil acesso”, afirma Valéria.
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