Homens adeptos do bareback - sexo gay sem camisinha - trocam dicas na internet para contaminarem jovens e adolescentes com a Aids
Eles não costumam revelar seus nomes verdadeiros. As trocas de experiências são feitas em sites cujos colaboradores não são identificados. Outras conversas acontecem em grupos fechados, de redes sociais e aplicativos.
É assim, secretamente, que homens de diversas partes do Brasil têm se unido para difundir o bareback, modalidade de sexo sem camisinha cujos adeptos, homossexuais soropositivos ou não, “brincam de roleta-russa” com a possibilidade de contraírem e transmitirem o HIV.
E o problema vai além: alguns estão usando táticas para enganar jovens mais ingênuos e também deixá-los vulneráveis à doença.
A prática foi denunciada por um estudante de medicina, em um grupo de discussão sobre questões LGBT no Facebook. O jovem de 24 anos, morador do interior de São Paulo, contou que recebeu o alerta de outros médicos e resolveu compartilhar com o máximo de pessoas possível.
“O que me motivou a divulgar este absurdo foi saber que adolescentes estão sendo enganados por esses monstros. Eles fazem isso por pura maldade”, disse ele, que preferiu manter o anonimato.
De acordo com o universitário, alguns barebackers, como são chamados, utilizam a web para conhecer jovens gays, marcam encontros e usam diferentes técnicas para conseguirem transar sem proteção.
Inicialmente, tentam convencer o parceiro de que a camisinha atrapalharia o prazer da relação. Quando a persuasão não funciona, furam os preservativos e fazem com que estourem no momento da penetração.
Por dentro do bareback
Os primeiros registros da palavra bareback como prática sexual datam do início dos anos 1980 nos Estados Unidos. Na mesma década, a modalidade começou a chegar a alguns países europeus e também ao Brasil.
Nos anos 1990, ele deixou de ser conhecido apenas em pequenos guetos homossexuais e se tornou mais popular (o que aumentou de vez graças à internet).
Em 2009, Luís Augusto Vasconcelos da Silva, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), escreveu um artigo sobre o tema.
No processo de criação do trabalho, intitulado Barebacking e a Possibilidade de Soroconversão, ele entrevistou praticantes para descobrir qual seria o intuito daqueles homens.
Em primeiro lugar, o pesquisador descobriu que alguns dos entrevistados transavam sem proteção porque queriam, de fato, contrair o vírus HIV. Depressivos, eles manifestavam desejo de morrer, mas “não tinham coragem” de cometer suicídio.
Outros demonstraram, segundo o professor, desejo “indireto” de se contaminarem – não mais por vontade de morrer, mas pela “liberdade” de, ao se tornarem soropositivos, pararem de se preocupar com a proteção. Seria como um “alívio” por contrair uma doença que parecia inevitável.
Alguns rapazes também justificaram a prática alegando que gostavam da sensação de perigo e subversão. Eles contaram ao estudioso que, a cada novo resultado negativo que recebiam em exames de HIV, sentiam a adrenalina subir e era “como se estivessem ganhando o jogo”.
Por fim, ainda de acordo com Vasconcelos da Silva, existiam aqueles que sentiam “curiosidade e fascinação” por participar de uma “identidade soropositiva” e, devido aos avanços no tratamento da doença, simplesmente não tinham consciência de sua gravidade.
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