Por Daniel Alonso *
O que assistimos na última sexta-feira, dia 4, se assemelha ao que vivemos três décadas atrás, quando uma Nova Democracia se instalou com o término de um regime totalitário. Ficou comprovado, e muito bem comprovado diga-se de passagem, que ninguém, exatamente, ninguém está acima da Lei e das instituições que regem esta Nação.
Um ex-presidente da República, que aparece em indícios de uma minuciosa investigação, prestou esclarecimentos para a Polícia Federal com mandado de condução coercitiva. De um lado, é lamentável o que assistimos: alguém que exerceu o poder máximo da República ser levado para interrogatório policial.
A biografia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou um novo capítulo, surgido de uma operação deflagrada em março de 2014 e que na sexta-feira entrou em sua 24ª fase. A Lava-Jato, que tem o juiz Sérgio Moro como pilar, apura um bilionário esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Não quero julgar de forma precipitada ou ampliar a horda de ódio anti-PT, contudo não posso me calar diante da indignação nacional a cada fase da operação. Não posso concordar com o que ouvi de um militante, outro dia, de que se as prisões e deflagrações envolvendo corrupção são frutos de um trabalho do próprio PT. Ledo engano. Somos uma democracia construída em quase três décadas de uma Constituição Cidadã.
O ex-deputado federal e médico Doreto Campanari, aqui de Marília, ajudou a escrever a nossa Carta Magna e lá estão traçados todos os parâmetros para que as instituições, e não os políticos ou os chefes sazonais de cada período, concentrem o poder. Se avançam as investigações para verificar se realmente houve corrupção na máquina pública a única e exclusiva responsável por tal evolução chama-se Constituição Federal de 1988, a mesma que foi proclamada por um dos maiores políticos que o Brasil já teve: o doutor Ulisses Guimarães.
Dentro de dois anos a Constituição Cidadão chega aos seus 30 anos de vigência. Creio que na sexta-feira ela deu mostra para que veio: veio para disciplinar o homem público, para colocar o País nos eixos. Chegou justamente para balizar os governos e mostrar que uma democracia só avança quando há autonomia entre os Poderes, sem que o Legislativo e o Executivo interfiram no Judiciário, nas investigações da Polícia Federal e no eficiente trabalho do Ministério Público.
O Estado Democrático de Direito permite a ampla defesa, o habeas-corpus e que as pessoas se manifestam pró ou contra, quem quer que seja. Se a ação de sexta-feira foi midiática, abusiva ou simplesmente mais uma fase da ampla investigação sobre suspeitas entre empreiteiras e agentes públicos, só o tempo nos poderá nos comprovar.
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* Daniel Alonso é empresário, diretor da Casa Sol e presidente da Federação das Associações dos Comerciantes de Materiais de Construção do Estado de São Paulo (Fecomac São Paulo)
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