Um tabu chamado suicídio

Compartilhe:

O que podemos aprender com a morte de Robin Williams e tantos outros

 

A cada nova notícia sobre suicídio, cogito escrever este post. Nunca tive coragem.

 

Mas, depois de saber que o ator Robin Williams, um dos meus ídolos de infância, teria tirado a própria vida, decidi derramar tudo o que penso e sinto sobre esse assunto tão profundamente triste - principalmente para quem já passou por essa dor e perdeu alguém que amava dessa maneira trágica.

 

Infelizmente, a lista é grande de artistas que tiraram a própria vida nos últimos anos, deixando seus fãs e familiares desolados. O humorista do Hermes e Renato, Fausto Fanti; a namorada de Mick Jagger, a estilista L'Wren Scott; os músicos Chorão e Champgnon, do Charlie Brown; o estilista Alexander McQueen; o ator Heath Ledger... e por aí vai.

 

Mas, ao contrário do que muitos pensam, não são só os ricos e famosos que estão fadados a interromper suas trajetórias, assim, repentinamente. Pessoas comuns todos os dias decidem ir embora sem dar tchau, deixando amigos e familiares com um "buraco" em seus corações, pelo resto de suas vidas. E muito pouco é falado sobre isso.

 

Seja para fugir de suas dores, procurar paz, se livrar do vício das drogas... Os motivos são tão pessoais como a maneira que essas pessoas encontram de acabar com seu sofrimento. E não adianta tentarmos entender o que leva alguém a escolher essa saída.

 

Quem somos nós, meros mortais, para julgar o que sente a alma humana, não é mesmo?

 

A questão é que nem sempre é possível diagnosticar um suicida em potencial ou amarrar alguém, obstinado a se matar, no pé da cama. E isso é algo importante a ser dito e discutido. Muito pode ser feito para ajudar no tratamento da depressão, através da psicologia/psiquiatria ou auxílio religioso, mas nem sempre é algo que está ao nosso alcance de impedir que aconteça, de fato.

 

Ninguém sabe o que o outro está pensando. E caso aconteça o pior, quem está próximo não pode – de maneira alguma - se culpar por não ter evitado, apesar de ser a primeira coisa que se cogita, e o pensamento mais recorrente de quem fica. Culpa, vontade de ir junto... É difícil, mas cada ser humano é dono da sua própria vida e responsável por suas atitudes. Não há nada que o outro possa fazer, quando alguém desiste de viver.

 

Decidi escrever esse post para tentar ajudar quem fica, os orfãos do suicídio. Esses que muitas vezes são esquecidos e, provavelmente, são os que mais sofrem com tudo isso. A não ser que você seja muito lúcido para superar esse tipo de perda, essa é uma situação enlouquecedora para qualquer mortal, independente de classe social, status financeiro, religião, etc. Só quem já passou por isso entende como é ser deixado desta maneira.

 

Eu perdi meu ex-namorado há 3 anos. Em 2011, ele pulou do 16º andar do prédio onde morava na praça Roosevelt, em São Paulo, deixando uma carta pra mim, dizendo que me amava muito mas não aguentava mais tanto sofrimento. Eu nunca imaginaria que aquele ser humano tão cheio de vida sequer cogitaria algo do tipo. Foi muito difícil.

 

A dor que senti quando recebi a notícia, com certeza, é pior do que qualquer dor física. A sensação é ser atropelada por um caminhão e sobreviver com todas as sequelas. Poucos são os amigos que sabem o que passei, pois sempre preferi guardar essa dor para mim – depois desse post, provavelmente, todos vão ficar sabendo, mas ok, este é meu fardo e aprendi a conviver com ele.

 

Alguns vão ter pena de mim e questionar como eu continuo sorrindo e seguindo em frente. A minha resposta? Eu amo estar viva e não me arrependo de absolutamente nada. Tenho muita lucidez e me reergo a cada novo dia; com meu trabalho, meu novo relacionamento, meus amigos, minha fé e minha nova vida. Sem nunca me esquecer do que vivi. Encaro tudo como um grande aprendizado e uma nova oportunidade de evoluir e ser feliz.   

 

Mas, sei que nem todo mundo que passa por isso, e fica, consegue ter essa clareza que eu tenho e força para superar seus traumas. Apesar de sabermos que todos vamos morrer um dia, nenhum de nós está preparado para encarar a morte de frente. E se lidar com a perda de alguém querido já é difícil, quem dirá dessa maneira insana. Não dá nem pra explicar o sentimento de quem fica.

 

Um buraco. Questionamentos constantes sobre quais seriam os motivos que levam alguém a tirar a própria vida e ainda deixar todo mundo a sua volta desamparado. Mãe, filhos, namorada, amigos... Você já tentou se colocar no lugar dos familiares de quem se mata? Então, tente. Feche os olhos e tente receber a notícia que a pessoa que você mais ama na vida foi embora sem dar tchau.

 

Antes de brincar ou julgar este tipo de situação, como tenho visto constantemente, tente se colocar no lugar de quem fica e tem que carregar essa dor pelo resto da vida. Todos os dias. Coloque-se no lugar de quem tem que continuar trabalhando, estudando, amando e vivendo como uma pessoa normal - ouvindo piadinhas sobre suicídas no Facebook e gente dizendo que quer morrer a cada nova decepção.

 

Vamos refletir e parar de julgar os outros? Talvez mais uma morte trágica, como o caso de Robin Williams, sirva para que as pessoas mudem suas atitudes em relação ao próximo e à própria vida. Convenhamos que não é preciso viver um suicídio na prática para refletir sobre o assunto e tentar ajudar quem pede ajuda, né?

 

Se você perdeu cinco minutos de sua vida online para ler isso, está no caminho certo.

Por:

Receba nossas notícias no seu celular: Clique Aqui.
Envie-nos sugestões de matérias: (14) 99688-7288

Desenvolvido por StrikeOn.